Eu também já me magoei, já senti a minha cara molhada de lágrimas que não consegui conter. Já me escondi debaixo da almofada para afagar as vozes que na minha cabeça gritavam. Já me desencontrei do tempo para tentar fugir. Já alterei planos quando perdera a vontade. Já fiz o que devia e o que não devia. Já derrubei as paredes que me prendiam à solidão e aprendi a voar. E então, penso que já fiz tudo. E é ao pensar que me asseguro que nada fiz. Montei as paredes nas minhas costas, impedido aqueles ataques surpresa de tempestades pouco anunciadas. Coloquei-me protegida dos ventos e longe da força das marés. Procurei um canto no campo longe de qualquer olhar desconhecido. Escondi-me por entre cortinas de histórias e deixei os relógios sem corda. Não sei ao certo quanto tempo passou mas os sorrisos tornaram-se escassos, assim como as lágrimas ou as vontades. Lentamente fui-me aproximando de algo que não era eu. Não tinha essência, não havia sonhos nem pesadelos. Os relógios continuavam sem dar horas e eu sem dar notícias. Acabei por me desencontrar de quem queria encontrar. De mim mesmo. De um coração que não encontrei ao levantar o véu ténue do sentimento que pensei sentir. E não sabia que não o encontraria. O meu problema foi não saber, ou não querer. E agora preciso de sentir, mas onde? Como? Se me esqueci e se fugi de tudo e fugi de mim...  

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